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VOLATILIDADE ELEITORAL 2018

Com o quadro eleitoral para 2018 absolutamente indefinido, já que ainda não se sabe ao certo sequer quem serão os candidatos na disputa presidencial, os gestores se preparam para um ambiente com elevados níveis de volatilidade afetando os preços dos ativos nos próximos meses. Até por conta dessa expectativa, a previsão é que a atuação dos especialistas se paute pela cautela e por posições táticas em detrimento às estruturais, com agilidade nas mudanças de posições dos portfólios a depender do noticiário político.
Carlos André, diretor executivo da BB DTVM, nota que no ambiente permeado de incertezas de 2018, com o quadro eleitoral indefinido e que deve prosseguir assim nos próximos meses, os gestores terão de buscar estratégias de proteção para suas carteiras. Serão usuais, segundo ele, operações que se contrabalanceiam entre si com riscos diferentes em cada uma delas. “O ano de 2018 tende a apresentar um grau de volatilidade maior por conta das notícias relacionadas ao processo eleitoral”, pondera o especialista. Em função dessa previsão, “não há condições na nossa visão de se montar posições muito direcionais, que extrapolam o horizonte eleitoral. Seriam posições muito arriscadas”, diz o diretor da BB DTVM. A tendência é que os gestores ampliem a diversificação de suas carteiras, com a incorporação de algum nível de proteção à medida do possível, pondera Carlos André.
Embora o cenário doméstico para 2018 não seja dos mais animadores para os investidores, em função da volatilidade esperada, o cenário externo poderá ser relativamente benigno, destaca o diretor da BB DTVM. Segundo ele, o crescimento sem pressões inflacionárias das economias desenvolvidas permitirá uma elevação bastante gradual das taxas de juros nos Estados Unidos, favorecendo os emergentes. “Esse ambiente nos leva a crer em um comportamento benigno também para as taxas de juros americanas, que tem influência muito relevante para o mercado brasileiro”.

Reformas – Na Santander Asset, Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos de investimento, ressalta que a casa têm trabalhado com um cenário base no qual, independentemente de quem sair vitorioso do pleito presidencial, o próximo presidente dará seguimento à atual agenda de reformas. “Admito ser difícil trabalhar com um cenário em que todos os candidatos reconheçam a necessidade de fazer algum tipo de reforma, mas caso isso aconteça, com sinalizações sobre mudanças na previdência em 2018 ou 2019, o Banco Central pode ter mais tranquilidade para seguir com o ciclo de corte nos juros, até por conta da inflação que também deve continuar benigna”, diz Castro. A Santander Asset trabalha com uma Selic em 6,5% ao término do atual ciclo de flexibilização monetária.
A postergação da reforma da previdência, que o governo diz que irá tentar retomar em 2018, não foi considerada pela gestora do banco suficiente para que a autoridade monetária interrompa os cortes na taxa de juros nos atuais 7%. “Embora a reforma da previdência tenha sido adiada para fevereiro, não podemos esquecer que muita coisa foi feita, como o teto dos gastos, a reforma trabalhista, a alteração da TJLP, mudanças na direção das estatais”, enumera Castro. Segundo ele, essas alterações criam um ambiente no qual o BC pode manter a taxa de juros próxima do patamar em que se encontra no momento pelo menos ao longo de 2018.
Ainda assim, Castro reconhece que há hoje pouca visibilidade sobre os resultados das eleições, e mesmo sobre os candidatos que irão concorrer. “O pleito de 2018 será diferente dos anteriores, com candidatos tradicionalmente com poucas chances sendo competitivos, sem a clássica polarização entre PSDB e PT e tendo o PMDB com um possível papel de liderança”, diz. “Na verdade, ainda tem muita coisa a ser definida”, afirma o especialista.
E embora seja quase certo que a disputa eleitoral trará volatilidade aos ativos do mercado, o superintendente da gestora do Santander avalia que a retomada do crescimento prevista para os próximos meses não será afetada por isso, já que, segundo espera a casa, a Selic seguirá na mínima histórica, a inflação controlada, e o ambiente externo se manterá benigno e com liquidez. “São as condições necessárias para o crescimento, que esperamos que alcance 3,5% no ano que vem”, afirma Castro, que acrescenta que a liquidez que deve permanecer no ambiente global, ainda que possivelmente menor diante da postura dos bancos centrais americano e europeu, tende a manter a balança comercial brasileira positiva. “A eleição em si não deve ser um fator para reduzir a atratividade do investimento direto no Brasil”, prevê o profissional.
O superintendente da Santander Asset lembra ainda que outros países emergentes também terão eleições para presidente durante o ano de 2018, como México e Colômbia, o que deve manter o Brasil em pé de igualdade em relação aos seus pares sob a ótica dos estrangeiros.

Olhando à frente – Já Sérgio Bini, superintendente nacional de ativos de terceiros da Caixa, afirma que o banco não trabalha em seu cenário base com a aprovação da reforma da previdência em 2018. Ele explica que essa convicção vem desde maio, quando o escândalo da JBS afetou a sustentabilidade do governo e sua agenda de reformas. “As denúncias contra o presidente Michel Temer paralisaram o Congresso, o que fez a agenda ficar espremida, e em 2018 com a proximidade das eleições a previdência é um tema espinhoso para os candidatos se posicionarem”, pontua o superintendente da Caixa. Ele ressalta, contudo, que não trabalha com uma probabilidade zero de aprovação da reforma da previdência em 2018. “Chances sempre existem, embora sejam pequenas”. Bini diz ainda que, mesmo para 2019, as chances da reforma previdenciária estarão altamente atreladas ao vencedor da disputa presidencial.
Para Rodrigo Noel, gerente de portfólio da Itaú Asset, o principal risco que os investidores devem enfrentar em 2018 é justamente a volatilidade decorrente do período eleitoral. “Acreditamos que os juros e a inflação baixos e o crescimento macroeconômico formariam o cenário para o ano que vem, fazendo com que o preço das ações subisse. No entanto, parte disso já aconteceu ao longo deste ano. Dada a quantidade de incertezas para 2018, haverá muita volatilidade”.

Multimercados – Noel diz ainda que os investidores institucionais devem ficar mais receosos diante desse cenário de indefinições, e por isso o especialista acredita que eles não vão aumentar a exposição em renda fixa, principalmente em ativos de longo prazo, com um direcionamento maior de seus recursos para os fundos multimercados. “É uma forma de deixar para o gestor ativo decidir a melhor maneira de navegar nesse ano de incertezas”, pondera o gerente da Itaú Asset.
“Estamos muito longe de ter clareza sobre o que vai ocorrer no Brasil”, diz Ricardo Almeida, diretor da Bradesco Asset Management (Bram), que assim como seus pares também projeta um cenário de alta volatilidade para os preços dos ativos. (REVISTA INVESTIDOR INSTITUCIONAL) - REGINALDO JOSÉ DIAS - Planejador Financeiro. 

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